Coreano para acertar na mosca Ex-atleta olímpico asiático é o novo técnico da seleção brasileira da modalidade, que agora conta com um centro de treinamento, em Campinas, para tentar medalha inédita em 2016 O ARQUEIRO Daniel Xavier (acima) treina tiros no Círculo Militar, em Campinas, que hoje serve de CT para a seleção. Abaixo, Lim orienta o cadete e seu tradutor, Edson Kim Carol Knoploch OBrasil montou, pela primeira vez, uma seleção permanente de tiro com arco, com endereço fixo e comando de quem entende do riscado: um coreano. Isso porque o país, obrigado a ter equipes em todas as modalidades esportivas para sediar uma olimpíada, não quer dar vexame em 2016, no Rio. O tiro com arco brasileiro nunca conquistou medalha em Jogos ou em Mundiais e sequer possuía sede para a confederação brasileira até 2001. Heesik Lim, de 43 anos, atleta olímpico e casado com uma campeã, Hee Kyung Wang (ouro por equipes e prata individual em Seul-1988), de 40 anos, está driblando a falta de intimidade com o português para fazer história. O técnico, há um ano no Brasil, mora em Campinas, no interior de São Paulo, desde março, ao lado dos atletas da seleção, que dividem duas casas. Antes, Lim estava no Rio e encontrava seus arqueiros em períodos pré-determinados. Ele entende o português, mas tem muita dificuldade para falar, principalmente por conta da timidez. Assim, conta com a ajuda de um intérprete: um atleta cadete, de apenas 15 anos, cujos pais são coreanos. Foi por acaso que Edson Kim, que também morou nove meses na Coreia do Sul para aprender sobre o esporte, virou seu “braço direito”. Cinco medalhas em 2008 Edson conta que, na Coreia do Sul, berço do esporte e país que ganhou cinco medalhas olímpicas (dois outros, duas pratas e um bronze) em Pequim-2008, a coisa é séria. Os treinos duram cerca de dez horas por dia e começam às 5h30m. Lembra quando o treinador de Wang mandou mensagem no celular dela, na madrugada, e pediu que fizesse uma tarefa: — Ela teve de correr, fazer uma espécie de escalada. E para provar que havia chegado ao topo, assinou um ponto. É um exercício também de respeito ao técnico. Se ele mandou, tem de fazer. Não é à toa que a Wang ganhou ouro e prata em Seul — conta Kim. — O Lim não fala português nem inglês, mas entende tudo... Lim começou a praticar tiro com arco aos 13 anos, em seu país, onde a modalidade é matéria nas escolas. Explica que os brasileiros sequer tinham noções básicas. E que, de um ano para cá, já evoluíram. — O brasileiro é mais alto e tem mais envergadura do que o coreano. Pode ser melhor atleta — afirma o treinador, que aposta em medalha inédita no Mundial na Itália, em julho. Quando perguntado sobre fazer história num país sem tradição no esporte, ele nem precisou esperar a tradução: — Sim, farei história — respondeu, em português. Mas ainda é difícil encontrar locais apropriados para a prática da modalidade, admitem os dirigentes. — Concorremos com o futebol. E daí fica complicado — explica Jener Takeshi Sato, coordenador do centro de treinamento de Campinas, sobre o local de treinos. Para praticar o arco recurvo (modalidade olímpica, 70 metros), é preciso de um campo aberto com cerca de 140 metros de comprimento e 40 metros de largura. A seleção treina no Círculo Militar, em gramado onde há anos se pensou em montar um novo campo de futebol. — Tem de ser exclusivo. Os horários dos treinos coincidem e a flecha sai do arco a 240km/h. Não pode ter gente circulando — explicou. A seleção tem seis atletas no masculino e quatro no feminino. Edson é aposta para 2016, assim como Eduardo Baltazar, juvenil que fez intercâmbio na Coreia do Sul. Eduardo vai se juntar a Daniel Xavier, atual campeão brasileiro, para disputar o Mundial adulto, seletivo para as Olimpíadas-2012. E também vai ao Mundial juvenil, na Polônia, em agosto. — Mudamos a postura de tiro e estamos em fase de adaptação. Melhorei, mas posso pontuar mais — analisou Eduardo. Daniel está há dez anos na seleção e já foi a três mundiais. Desde que Lim chegou, ele já bateu todos os seus recordes de pontuação. — É o que tinha de ser feito há tempos. Agora temos um treinador, como as melhores equipes do mundo, como a Coreia e a Itália. O tiro com arco contou com dois representantes nas quatro edições das Olimpíadas desde 1980, em Moscou, até 1992, em Barcelona. Mas nenhum arqueiro defendeu as cores nacionais em Atlanta, em 1996, e em Atenas, em 2004. Voltou a ter um representante em Pequim, em 2008, e não passou da primeira fase. O melhor desempenho do país em Pan-Americanos foi em 1983: três medalhas de bronze, duas no masculino e uma no feminino, em Caracas. |
Jornal: O GLOBO
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Autor:
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Editoria: Esportes
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Tamanho: 812 palavras
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Edição: 1
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Página: 5
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Seção:
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Caderno: Caderno de Esportes
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