A recepção tinha que ter um brilho parecido com o dourado da medalha que Marcus Vinicius D'Almeida trazia no peito. Aliás, de uma das medalhas. A esperança do tiro com arco brasileiro desembarcou na manhã desta quarta-feira, no Rio de Janeiro, com o ouro individual e o bronze por equipes conquistados no Campeonato Mundial de Cadete, uma disputa juvenil da modalidade. O atleta, de 17 anos, foi recebido com o carinho e a emoção dos pais, da irmã, da namorada e dos muitos amigos que vieram de ônibus de Maricá, onde vive, para abraçá-lo.
A chegada de Marcus Vinicius e dos companheiros da equipe, Jhonata Reis e Marcelo Costa Filho, foi adiada em um dia. Problemas climáticos fizeram com que eles perdessem o voo original, que chegaria na terça-feira pela manhã. Surpreso com o número de amigos que o esperavam, o novo campeão mundial sub-17 celebrou a conquista que marca quase uma ''volta por cima'' após um início de temporada abaixo das expectativas.
- Eu tive um início de ano muito ruim. Então, sempre foi meu objetivo conseguir essa medalha no Mundial. Ainda mais o ouro. Nunca tivemos nenhum ouro na história do Brasil. É sensacional, não dá para descrever. Tudo que foi ruim tinha que se transformar em bom, como foi agora. Foi perfeito - celebrou o atleta.
O título importante veio em torneio realizado em Yankton, nos EUA, no domingo. Marcus Vinícius derrotou na decisão o holandês Jan Van Tongeren por 6 a 2. Foi ele também que comandou o time nacional no bronze por equipes na última quinta-feira.
- É um sonho a mais. Estamos buscando agora no adulto porque temos uma equipe bem forte - disse Marcus, enaltecendo a vitória coletiva.
Apesar da pouca idade, o jovem tem um currículo de importância. Foi vice-campeão da Copa do Mundo ano passado, torneio que envolveu os oito melhores do planeta. Também em 2014, foi medalha de prata nos Jogos da Juventude, na China. Em 2015, no entanto, não vinha obtendo bons resultados nas primeiras etapas do Circuito Mundial, ficando fora do grupo dos 64 melhores nas duas competições que disputou. Ele considera a oscilação normal e explica que fez mudanças nesta última competição que surtiram efeito positivo.
- É exatamente o que muitas pessoas já me falaram. É impossível passar o ciclo olímpico inteiro ali no topo. É um aprendizado. Lançaram um equipamento novo da marca que eu uso e fui tentar utilizar. Não tive um bom entrosamento. Não que o arco seja ruim. Voltei para o que usava no ano passado, e ele dá uma confiança a mais. Sei como funciona - completou.
A mãe, Denise, era a mais ansiosa pelo desembarque. Apesar de ver o filho viajar desde os 15 anos, diz que ainda sente nervoso e só fica totalmente calma ao ver que o avião posou.
- Minha preocupação é enquanto não posa (risos) - brincou
O pai, Marcus Maurício, estava mais emocionado. Ele disse que a recepção foi uma das mais especiais que seu filho teve em sua ainda precoce carreira.
- É uma das melhores recepções que ele já teve. Parece que está conseguindo colocar o nome dele e do tiro com arco em primeiro lugar. O trabalho dele é árduo, merece. Ficou muito tempo afastado da gente e foi difícil. Agora é glória - celebrou o pai.
Mais tímida, a namorada Gabriela diz estar acostumada. Eles estão juntos há 2 anos e sete meses. Tempo suficiente para se acostumar com a rotina de treinamentos e competições. E, sobretudo, com a distância.
- Quando comecei a namorar, ele já era arqueiro. Foi pouco antes de ele morar em Campinas com a seleção. Tive que aprender a lidar com isso desde o início do namoro. Mas essa felicidade quando ele volta é tão grande - disse Gabriela.
Não haverá muito tempo para descanso ou para curtir a família. Marcus Vinícius já planeja voltar a treinar nesta semana. A primeira parada para os trabalhos será no CT de Saquarema, local que hospeda o vôlei brasileiro. O próximo compromisso é o Pan de Toronto, no início de julho. A competição mais importante da temporada é o Mundial, no fim do mês que vem.
Medalhistas por equipe enaltecem liderança
Também medalhistas, Jhonata Reis e Marcelo Costa Filho fizeram questão de ressaltarem a importância de Marcus Vinicius no bronze por equipes. Para eles, o atleta carioca é uma fonte de inspiração bem próxima.
- A gente sabendo que, se fizéssemos bem, ele faria outra flecha boa. Ele ter dito que tínhamos chance, nos ajudou bastante. A gente sempre viaja acreditando que é possível. É uma motivação. A gente conversa muito, procura muitos conselhos do Marcus Vinicius. É uma inspiração muito forte - disse Jhonata.